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Foto do escritorAna Lucia Castello

Especialistas em catástrofes, psicólogos já pensam em vítimas do Chile



Trabalho do grupo de voluntários deve começar pelo menos em 30 dias.

Os psicólogos ajudarão agora vítimas dos desastres em Angra e Paraitinga.


Reconstruir a cena mais pavorosa para poder curar o trauma. Esse é o princípio básico do Programa de Ajuda Humanitária Psicológica (PAHP), que busca dar apoio psicológico a vítimas de catástrofes. E é essa ajuda que o grupo de psicólogos voluntários quer levar agora às vítimas do terremoto no Chile. “Esta semana, a turma já está se mobilizando para coletar os dados”, conta Reinaldo Franco, coordenador de logística do programa. “A primeira frente é montar o grupo de voluntários, depois orçar os custos da viagem”, diz Franco, que é integrante do Rotary Club, um dos apoiadores do programa. No entanto, ele ressalta que ainda não houve nenhum pedido oficial de autoridades chilenas para a ajuda humanitária. “Mas as equipes estão prontas para colaborar. Não adianta chegar nos próximos dias ao país, já que essa não é a filosofia do PAHP. É preciso saber o momento de agir”, conta.


“Precisamos do momento ótimo para chegar à cidade, quando as pessoas já estão em suas casas ou abrigos. Antes disso, estão motivadas com outras prioridades”, relata a psicóloga Ana Maria Zampieri, doutora em psicologia clínica pela PUC-SP e idealizadora do projeto, iniciado em dezembro de 2008. “É preciso que se passem 30, 60, 90 dias”, completa Franco, sobre a ida ao Chile. Por isso, Angra e Paraitinga são o foco agora. Na cidade fluminense e na Ilha Grande, na mesma região, 53 pessoas morreram em função de desabamentos durante o réveillon. Já no município histórico de São Paulo, as vítimas são os moradores que perderam suas casas com a maior enchente dos últimos anos.


Para os psicólogos, as situações de tragédia causam traumas que ficam. “A intervenção que fazemos é encontrar a pior cena vivida, diagnosticar as reações em relação às situações traumáticas e tratar. É o que chamamos de sociodrama construtivista da catástrofe”, explica Ana Maria. Pelo método aplicado, reviver sentimentos ligados à culpa, impotência e depressão é o caminho para que eles possam ser enterrados. Para isso, os psicólogos trabalham em grupo, encenam junto com as vítimas situações ruins pelas quais elas passaram, como perda de parentes em terremotos, tornados, enchentes e deslizamentos.


Dor e culpa Em pouco mais de um ano, os psicólogos assistiram 3.600 pessoas em Santa Catarina, Maranhão e São Paulo. No estado paulista, o cenário era desolador em municípios atingidos pelos últimos temporais de dezembro e janeiro. Uma das famílias atendidas pelo PAHP foi a do ajudante-geral Gilmar Souza dos Santos, que perdeu os quatro filhos em um deslizamento de terra em Santana do Parnaíba, na Grande São Paulo. Em entrevista ao G1 na sexta-feira (26), Santos contou que as conversas com a psicóloga Ana Maria o ajudaram muito. “Devagarzinho, vamos tocando o barco.” O otimismo não era o mesmo logo após a tragédia. “A gente fica pensando besteira, acha que é culpado.” A mulher dele, Neusa, também se salvou. “A sessão com ela foi pesadíssima. A Neusa achava que era culpada por não ter conseguido tirar os filhos da casa, mas depois saiu dizendo que queria engravidar novamente”, conta a psicóloga Ana Lúcia Gomes Castello, integrante do grupo. Além dos 37 profissionais, também chamados psicoterapeutas de trauma, o PAHP formou recentemente mais cem pessoas. Há grupos em São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão, Santa Catarina, Mato Grosso, Brasília e Goiânia. Eles contam com a ajuda da Força Aérea Brasileira (FAB), além do Rotary Club e de empresários.


Traumatização secundária Absorver tanta coisa ruim pode prejudicar até mesmo quem veio prestar socorro. Por isso, existe a preocupação em auxiliar também bombeiros, soldados, médicos, enfermeiros ou quem quer que esteja auxiliando as vítimas naquele momento. “Tem militar que não quer dormir, fazer turno, dorme com o rádio ligado e diz que só está ali para ajudar. Acabam comprometendo a saúde deles”, diz Ana Maria. Para que os próprios psicólogos não se deixem abater tanto pelo drama eles têm uma tática: “Todo dia tem um de nós de plantão para nos atender. À noite, a gente relata as experiências daquele dia, chora, se descabela”, revela Ana Maria, que, em 30 anos de profissão, guarda cenas marcantes, como a de uma mulher tentando salvar a família em um deslizamento de terra em Blumenau (SC).


“Veio a lama e ela tentou salvar os dois filhos (um de 4 anos e um bebê de dois meses). Largou o maior, se agarrou em um tronco e, no outro braço, pegou o bebê. Depois, ela não conseguia amamentar esse filho por causa da culpa. ”No caso das crianças, as marcas da tragédia são reveladas em atitudes como fazer xixi na cama, chupar o dedo, ter pesadelos, perder a concentração na escola e até bater nos outros”. Com os pequenos, o trabalho é feito por meio de ilustrações. “O desenho é uma fonte muito rica para interpretar o que está acontecendo. Tem criança que até perde a fala [por causa do estado de choque]”, conta Ana Lúcia, especializada no atendimento a menores. “O mais difícil é trabalhar com pessoas que estejam dissociadas, fora do ar. É um momento muito doloroso encarar a realidade”, completa a colega Ana Maria.



Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL1510772-5605,00.html
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